terça-feira, 26 de agosto de 2008

CARA OU COROA


De uns tempos pra cá fiquei feliz com minha intimidade com as palavras, num sei se pelo fato do trabalho, que envolve escrita sempre, ou pelo acesso diário ao blog “crônica do dia”, onde me sinto verdadeiramente em casa.

OBS.: tomei o cuidado de colocar o link ali no canto inferior direito.

E pensando sobre os atos majoritários de minha vida, descobri que ainda falta muito para me tornar mais completo.

É fato que já fiz listas da minha vida, daquilo que deveria acontecer e das situações mais saborosas que me ocorreram, contudo sinto que muito ainda me falta. É verdade que tenho medo da rotina, mas sou extremamente acomodado e nessa contradição sem perdão ando querendo mudanças. Acredito que meu medo do que é em geral trilhado maquinalmente, pela força do hábito, vem vencendo essa disputa.

Quero tantas coisas que venho querendo abraçar o mundo com as pernas, esquecendo de verificar em mim o que realmente quero além da mudança do que já se tornou comum.

Esquisito isso, só o fato de eu escrever já dá nisso, está tudo muito complicado.

Entretanto, fazendo uma busca nos meus impulsos, no que me estimula, descobri que em rigor são meus amigos que fazem isso por mim, que me transformam e nessa metamorfose constante, tudo hoje me instiga para o diferente, para o anormal, mas nada fugindo da minha realidade natural... sou muito acomodado...
Descoberta de hoje: penso bastante antes de qualquer decisão.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

DO CÓDIGO

DECLARAÇÕES DOS DIREITOS DO POETA

Artigo I
Todo poeta tem direito ao silêncio. A fazer. A escutar. A esculpir. Silêncio. Todo poeta tem direito ao calado. Ao mudo. Ao invisível. Ao fantasma. Todo poeta tem direito ao nada.

Artigo II
Todo poeta tem direito à Lua. À mãe. Às mulheres de fases. Às musas inspiradoras. Às noites. Todo poeta tem direito às lobas. Aos uivos. À música. À inspiração. Todo poeta tem direito a um poeta do sexo composto.

Artigo III
Todo poeta tem direito à delicadeza. Ao sexo com amor. Suave. Lento. Todo poeta tem direito às preliminares sem sexo. Ao amor platônico. Ao amor cortês. Todo poeta tem direito a um amor qualquer.

Artigo IV
Todo poeta tem direito a miragens. A olhar uma coisa e ver outra. A transformar pedra em poesia. Todo poeta tem direito à loucura. Ao internamento. Ao pátio. Ao choque etérico.Todo poeta tem direito ao delírio. Ao surto. Ao alvoroço. Todo poeta tem direito ao torto.

Artigo V
Todo poeta tem direito aos caminhos. A pular muros. A abrir buracos. A cruzar cercas. Todo poeta tem direito ao relento. Ao passo de tartaruga. Ao atraso. Todo poeta tem direito ao acaso. Às oportunidades. Às possibilidades. Aos desvios. Todo poeta tem direito aos descaminhos.

Artigo VI
Todo poeta tem direito ao passado. Ao que foi sem deixar de ser. Ao que nunca houve, mas deveria ter havido. À memória inventada. Todo poeta tem direito à alma fotografada. À câmara escura. Ao negativo. Ao olvido. Todo poeta tem direito ao perdido.

Artigo VII
Todo poeta tem direito à infância. Ao seio. Ao colo. Ao cheiro. Todo poeta tem direito ao jogo. À brincadeira. À besteira. Ao trocadilho. Todo poeta tem direito à rua. Ao campo. Ao sereno. Todo poeta tem direito ao brinquedo.

Artigo VIII
Todo poeta tem direito ao futuro. À brecha no escuro. Ao buraco da fechadura. Todo poeta tem direito ao sono. Ao sonho dormindo. Ao sonho acordado. Ao sonho assanhado. Todo poeta tem direito ao perfeito. Ao seu jeito. Ao defeito. Todo poeta tem direito ao esquerdo.

Artigo IX
Todo poeta tem direito à rima. À prima. Às meninas. Todo poeta tem direito ao verso. À frente. Ao lado de cá e ao lado de lá. Todo poeta tem direito ao avesso. Ao branco. Ao preto. Aos lilases. Todo poeta tem direito a explosões solares.

Artigo X
Todo poeta tem direito à palavra. Ao dicionário e à gramática. À exceção e à licença. Todo poeta tem direito ao símbolo. Ao signo. Ao zodíaco. Todo poeta tem direito à metáfora. Ao dentro do fora. Ao fora do dentro. Ao neologismo. Todo poeta tem direito ao umbigo.

Artigo XI
Todo poeta tem direito ao ócio. Ao vício. Ao troço. Todo poeta tem direito ao descanso. E ao descanso do descanso. Ao enfado criativo. Todo poeta tem direito às redes. Às varandas. Aos cochilos. Todo poeta tem direito ao mimos. Aos regaços. Aos mamilos. Todo poeta tem direito ao tranqüilo.

Artigo Final
Todo poeta tem direito à paz. Ao canteiro. Ao carinho. Em um poeta — por direito, se não por favor — não se bate nem com a palavra Flor.

(Eduardo Loureiro Jr.)